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Bento XVI condena a gnose e o panteísmo 21/12/2008

Posted by Moisés Gomes in Papa Bento XVI, Pensadores.
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Fonte: Montfort

Na audiência geral de 3 de Dezembro de 2008, o Papa Bento XVI fez importante pronunciamento doutrinário ao tratar do pecado original e da Redenção de Cristo.

Inicialmente, comentando textos de São Paulo, o Papa mostrou como a tendência para o mal moral, patente em nossa natureza, coloca o problema do pecado e o do mal. O Papa salienta que o problema do pecado original – dogma da Fé católica — está ligado a outro dogma: o da Redenção de Cristo.
O pecado de Adão afetou profundamente a natureza humana, inclinando-nos ao erro e ao pecado.
Deus tudo fez bom. No Gênesis, se lê que a cada coisa que Deus criava, Deus afirmava que essa coisa era boa. E, no final da criação, Deus, vendo tudo o que havia feito, afirmou que tudo era muito bom, pois todas as criaturas eram bens ordenados entre si.
O mal enquanto ser, não existe. Se o mal existisse enquanto ser, enquanto coisa, esse mal teria sido feito por Deus, e Deus tudo fez bom.
Santo Agostinho, que durante certo tempo foi maniqueu, mostrou bem o absurdo do dualismo gnóstico maniqueu que afirmava existirem dois princípios eternos e iguais: o do bem e o do mal.
Santo Agostinho, em seu livro Contra Manicheos, mostra que imaginar que possa existir um Princípio absolutamente mau é um absurdo. Porque, existir é um bem. Se existisse um princípio absolutamente mau, ele teria um bem: o da existência. Logo, tendo o bem da existência, ele não seria absolutamente mau. Logo, não pode  haver um ser absolutamente mau.
O mal não existe enquanto ser. Mal é falta do que deveria existir ou a falta de ordem. Assim, se falta um olho  a um homem, isso seria um mal. Se falta ordem num ser, isso é um mal. Se um homem tem uma terceira orelha em sua fronte, ela estaria colocada fora de ordem e lhe seria prejudicial. Mal aí seria a falta de ordem no ser.
Porém somos capazes de fazer ações más, isto é, desordenar os bens. O mal moral existe. Por exemplo, roubar é um mal moral, e ele consiste em colocar um bem menor (o dinheiro, a riqueza) acima de um bem maior: a justiça.
                       
                  Bem menor –  a  Riqueza $
Roubar = ———————————————-  =  ação má, imoral.
                   Bem Maior  –  a   Justiça
 
Nossa inteligência compreende que não devemos fazer essa desordem, mas há uma força negativa no homem que o impele a ter um desejo desordenado por algum bem e o leva ao pecado. Essa tendência, em nós, a cometer pecados é conseqüência do pecado original, que colocou no homem uma desordem profunda.
O pecado original, ofendendo a Deus, teve gravidade infinita, e só o mérito infinito de Cristo, Deus encarnado, poderia nos livrar dessa culpa original. Como Deus, Jesus Cristo tinha mérito infinito. Como homem, Ee se apresentou a Deus Pai como o único responsável por todos os nossos pecados, pagando desta forma todas as nossas culpas.
Bento XVI mostra assim que sómente Cristo é nosso Redentor e que sua redenção nos libertou da culpa original e, por meio da graça de Cristo, o homem pode agir bem e vencer a tendência misteriosa que sentimos para o pecado.
Mas, “o fato do poder do mal no coração humano e na história humana é inegável. A questão é:  como se explica este mal?” perguntou Bento XVI na audiência geral de 3 de Dezembro passado.
E o Papa prosseguiu explicando que, no passado histórico, duas tentativas de solução, contrárias à explicação dada pela doutrina católica, foram elaboradas, para explicar o problema do mal. Ambas pretendendo seduzir o homem. dizendo-lhe mentirosamente que, de fato, ele seria deus. Ambas constituindo-se como que as duas forma da Religião do Homem, o Antropoteísmo.
 
A  falsa solução da Gnose. Ela considera que o mal é inerente ao Ser, e mesmo ao ser da Divindade, e que, conseqüentemente, o próprio Deus  transmitiu o mal ontológico aos seres existentes no mundo. O mundo criado seria obra do Deus mau, e fruto da queda da própria Divindade.Portanto, em todo ser, haveria dois princípios contrários e iguais: o bem e o mal constituindo cada ser numa perpétua luta dialética. O ser então não seria idêntico a si mesmo. O dualismo seria o fundo de todo ser, e a luta entre o princípio bom contra o princípio mau causaria a evolução dialética, tal como, por exemplo, Hegel a explica em sua Gnose.
Esse sistema gnóstico existiu em toda antiguidade pagã e foi vencido pelo Cristianismo.  Na Idade Média, ele voltou a se expandir através do Catarismo que a Inquisição combateu, mas não venceu. E foi essa Gnose, triunfante na  Filosofa mística de Eckhart derivada de Duns Scoto que veio a desembocar na mística e moral da Reforma de Lutero e no Humanismo do Renascimento, dando origem a toda Gnose Moderna, desde Descartes à Fenomenologia de Husserl e ao Modernismo do Vaticano II.
A Gnose é irracionalista e inimiga de toda matéria, considerada por ela como o princípio do mal, o sepulcro ou cárcere de um espírito divino que estaria preso nos seres materiais e que seria preciso libertar por meio de um conhecimento intuitivo, dialético, não racional (Gnosis = conhecimento). O Hinduísmo, o Budismo, o Mazdeísmo, o Maniqueísmo, o Catarismo, o Romantismo e o Nazismo foram exemplos típicos de movimentos gnósticos. Na Igreja, atualmente, a Gnose aparece no Modernismo e nos movimentos carismáticos dominados pelo irracionalismo e sentimentalismo.
Veja-se agora o que ensinou nosso Papa Bento XVI sobre a versão gnóstica do Antropoteísmo, da Religião do Homem, que desde Adão luta na História contra a única religião verdadeira:

Na história do pensamento, prescindindo da fé cristã, existe um modelo principal de explicação, com diversas variações. Este modelo diz:  o próprio ser é contraditório, tem em si quer o bem quer o mal. Na antiguidade, essa idéia incluía a opinião que existiam dois princípios igualmente originários:  um princípio bom e um princípio mau. Este dualismo seria insuperável; os dois princípios estão no mesmo nível, por isso haverá sempre, desde a origem do ser, esta contradição. A contradição do nosso ser, portanto, refletiria apenas, por assim dizer, a contrariedade dos dois princípios divinos” ”.(Bento XVI, Adão e Cristo: do pecado (original) à liberdade, Audiência Geral de Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2008).
 
De passagem, cabe perguntar: como ficam certos teólogos da internet que se divertem, afirmando que a Montfort vê Gnose em tudo? Será que Bento XVI também vê Gnose em toda a parte?
A essa versão gnóstica da heresia metafísica, que pretende erigir o homem em Deus, sempre se opôs uma segunda versão mais bruta e racionalista do Antropoteísmo: a do Panteísmo. Para o Panteísmo, não haveria uma Divindade transcendente. A Divindade seria imanente ao universo e se confundiria com ele. A Matéria seria eterna e constituída por dois princípios contrários e iguais, que ocasionariam a evolução contínua do mundo da pedra bruta para a vida vegetal, desta para o mundo animal, e este para o homem.
E por que não depois para o Super Homem?
Todo Panteísmo desemboca na Gnose. Darwin e Marx trabalham para  divinizar o Homem.
O Panteísmo é defensor de um monismo dualista, dialético, evolucionista, racionalista, cientificista, mecanicista.
Foi também de Duns Scoto, através de Guilherme de Ockham que nasceu o racionalismo moderno, triunfante na vertente racionalista do cientificismo cartesiano, nos empiristas, no iluminismo enciclopedista, em Darwin e no Marxismo, e, finalmente, hoje, na Teologia da Libertação.
Eis como Bento XVI apresentou essa segunda versão da Religião do Homem, o Antropoteísmo:           

“Na versão evolucionista, atéia, do mundo volta de maneira nova a mesma visão. Mesmo se, nesta concepção, a visão do ser é monista, supõe-se que o ser como tal desde o início tenha em si o mal e o bem. O próprio ser não é simplesmente bom, mas aberto ao bem e ao mal. O mal é igualmente originário como o bem. E a história humana desenvolveria apenas o modelo já presente em toda a evolução precedente”.
(Bento XVI, Adão e Cristo: do pecado (original) à liberdade, Audiência Geral de Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2008).
 
Daí, o Antropoteísmo, em suas duas versões –a Gnóstica e a Panteísta–  procura substituir a verdade do pecado original pela idéia de queda metafísica. A Divindade caiu no ser. Na história, a Divindade luta para se libertar através da evolução dialética. Panteísmo e Gnose seriam como dois fios – um vermelho e o outro branco—que se enroscam um no outro, dando origem ao fio da história.
O panteísmo materialista e anti clerical é defendido pelas sociedades secretas laicistas, enquanto a Gnose é propagada pelas seitas secretas místicas. Ambas são como os dois chifres do bode, ou as duas pontas da língua bífida da serpente. Mas  a cabeça do Panteísmo e da Gnose é uma só.
Bento XVI acentua a face anti-metafísica dessa doutrina anti católica ao dizer:

“Aquilo a que os cristãos chamam pecado original na realidade seria apenas o caráter misto do ser, uma mistura de bem e de mal que, segundo esta teoria, pertenceria à própria capacidade do ser. No fundo, trata-se de uma visão desesperada:  se assim é, o mal é invencível. No final conta unicamente o próprio interesse. E cada progresso deveria ser necessariamente pago com um rio de mal e quem quisesse servir o progresso deveria aceitar pagar este preço. No fundo, a política é delineada precisamente sobre estas premissas:  e vemos os seus efeitos. Este pensamento moderno pode, no final, criar tristeza e cinismo” ”.
(Bento XVI, Adão e Cristo: do pecado (original) à liberdade, Audiência Geral de Quarta-Feira, 3 de Dezembro de 2008).
 
Essa luta entre a Igreja e a anti Igreja atinge, em nosso dias, o paroxismo.
 
O Papa Bento XVI tem bem clara a dramaticidade da batalha que se trava, hoje, no Vaticano e no mundo, mundo que está  à beira de um colapso geral. Religião, política finanças são os estopins dessa derradeira batalha que alcança aspectos apocalípticos. Que a resolução do combate atual é iminente parece se entrever nas derradeiras palavras do Papa no final deste seu pronunciamento:

A noite escura do mal ainda é forte. E por isso rezemos no Advento com o antigo povo de Deus:  “Rorate caeli de super”. E rezemos com insistência:  vem Jesus, dá força à luz e ao bem; vem onde dominam a mentira, a ignorância de Deus, a violência, a injustiça, vem, Senhor Jesus, dá força ao bem no mundo e ajuda-nos a ser portadores da tua luz, artífices da paz, testemunhas da verdade. Vem Senhor Jesus! ”.(Bento XVI, Adão e Cristo: do pecado (original) à liberdade, Audiência Geral de Quarta-Feira, 3 de Dezembro de 2008).
 
Rezemos pelo Papa Bento XVI, que está n centro dessa batalha e é alvo odiado por todos os seguidores do Antropoteísmo, quer os do ramo gnóstico, quer os do ramo panteísta.

São Paulo, 17 de Dezembro de 2008

Orlando Fedeli